terça-feira, 31 de julho de 2012

#Notícias: BOLÍVIA, TERRITÓRIO PROIBIDO.

Olá amigos e amigas do Motociclismo, Lobo encontrou esse relato e resolvi compartilhar. Embora nossas viagens até o momento tenham sido maravilhosas e repletas apenas de boas passagens, é sempre bom lembrar e ficar sempre atento, afinal,  nem tudo são apenas flores. 
Veja o relato abaixo, contato por um irmão motociclista.


Bolívia, território Proibido!

No dia 20 de julho, eu e Marcelo Resende, depois de nos encontramos no Mato Grosso do Sul, seguimos juntos para Corumbá onde entramos em território boliviano.

Na fronteira, alguns policiais comentaram que estava tendo uma incidência de roubos entre Puerto Suares e Santa Cruz de la Sierra. Eu e Marcelo já tínhamos como plano manter uma velocidade que nos garantisse a autonomia das motocicletas em razão da dificuldade de abastecimento e, em nenhuma circunstância seguir viagem depois do pôr do sol.

Mesmo diante a determinação governamental de vender gasolina para estrangeiros por três vezes mais o valor vendido aos bolivianos, o maior problema era o limite de apenas 20 litros por veículo. Como já tinha comentado, “demos sorte”, e conseguimos além de completar o tanque das motocicletas, ainda encher alguns galões de reserva. A nossa sorte foi a seguinte barganha: Deixarmos os militares do exército que estavam controlando o ponto de abastecimento tirarem uma foto em cima das motos, e partir daí, teríamos uma espécie de passe livre para abastecermos. Deu certo!



clique na foto para ampliá-la
clique na foto para ampliá-la









clique na foto para ampliá-la
clique na foto para ampliá-la








clique na foto para ampliá-la
clique na foto para ampliá-la










Saímos de Puerto Suares por volta das 14:00 e seguimos para Robore de Chiquitos, onde reabastecemos as motocicletas e depois paramos em San Jose para pernoitarmos. 
Como todos sabem, adoro fotografar, e entre estas duas cidades fiz umas duas paradas para tirar umas fotos do pôr do sol nas montanhas.
A noite ao sentarmos a mesa para jantar, percebi que o meu ritmo de viagem, ou seja, parando para fotografar, iria atrapalhar Marcelo Resende no seu cronograma, já que o mesmo não dispunha de muitos dias para aquela viagem em razão dos seus compromissos em Belo Horizonte.

Então combinados de nos encontrarmos em Cochabanda dois dias depois. Assim, eu poderia fazer as minhas fotos e Marcelo rodar por alguns lugares que eu já conhecia.
Depois que deixei San Jose, peguei uma estrada de terra conhecida como Ruta das Missiones que chegaria a Samaipata, ao sul de Santa Cruz de la Sierra.





clique na foto para ampliá-la
clique na foto para ampliá-la
clique na foto para ampliá-la








Eram cinco ocupantes que desembarcaram muito rapidamente da camionete. O primeiro que se aproximou, bateu no meu capacete mandando que eu saísse de cima da moto. Na minha frente, o homem que estava ao lado no motorista agora apontava a espingarda na minha direção. 

Ainda de capacete, parado ao lado da moto, observava quais seriam as orientações. O homem que estava ao meu lado me dizia algo e não entendia o seu espanhol. Um outro homem na minha frente, sinalizou para que eu tirasse o capacete, e assim o fiz. Assim que tirei o capacete o homem ao lado me deu um tapa na nuca e um outro se aproximou e gesticulou à minha frente mandando eu tirar a jaqueta. Nada pude fazer naquele momento, a não ser seguir cuidadosamente as orientações que me eram repassadas.

Este mesmo homem ao meu lado, pegou o meu relógio e me pediu os meus óculos escuros. Tentei lhe explicar que o meu óculos escuro era de grau, e ele continuou gesticulando e gritando - “dar-me, dar-me”... Tirei o óculos e lhe entreguei nas mãos e em contrapartida, ganhei um tapa no rosto do homem que estava na minha esquerda. 

Nada pude fazer a não ser ver estes “fdp” saquearem tudo que ali comigo levava. Máquina fotográfica, uma quantidade de Real e Peso Boliviano, meu passaporte, cartão de crédito, documento da motocicleta, etc...

Em um momento rápido cheguei em pensar em tentar tomar a espingarda do outro homem que estava nas minhas costas, mas me conscientizei que seria bobagem pois eles poderiam me matar ali mesmo. 

Quando eles tentavam abrir as minhas malas laterais (side case) se atrapalharam, e determinaram que eu mesmo fizesse a abertura. Ao me abaixar, tomei mais um golpe na nuca, mas preferi nem olhar pra traz.

Depois que olharam o que tinha nas minhas malas laterais, levando a caixa de ferramenta entre outros objetos, pediram novamente que me levantasse e me afastasse da motocicleta. Naquele instante achei que o pior poderia acontecer. O homem que se aproximou primeiro, não devendo ter mais que 1,65m e 25 anos, desarmado, se aproximou e me deu um outro tapa no rosto. Nada fiz, sequer movi o rosto, apenas olhava-o nos olhos. Ele me perguntou o porquê de estar lhe olhando, e me deu um outro tapa.

Neste momento o homem que estava a frente da minha moto com a espingarda em mãos deu uma espécie de voz de comando aos demais para que fossem embora.

Quando vi todos entrarem na camionete e começarem a sair, o meu sentimento de medo, raiva e alívio se misturavam. Fiquei uns três minutos ali parado me recompondo. Fui até debaixo do para-lama dianteiro onde guardo minha chave sobressalente da moto, dei partida e segui para Oruro.

A minha preocupação naquele momento era chegar em algum hotel para cancelar o cartão de crédito e tentar contato com Marcelo Resende avisando o acontecido. Ao chegar no hotel, pelo Skype da recepção tentei vários contatos com Marcelo, mas sem êxito. 

Expliquei a situação para o gerente do hotel, dizendo que não tinha meios e condições para pagar a minha estada naquele momento, mas se o mesmo me desse crédito, assim que fizesse contato com o Brasil, ou encontrando Marcelo Resende, eu poderia saldar com as minhas despesas. Antes mesmo do gerente me responder, um senhor ao meu lado, em inglês, me perguntou o que teria ocorrido, e lhe contei sobre o assalto. Este senhor, talvez com quase uns 70 anos, disse ao gerente que pagaria a minha estada. Este senhor, Jörn, um cidadão alemão, médico, que estava com o filho e nora conhecendo a região, além de arcar com a minha estada, me deu USD 200. Perguntei ao Jörn como poderia lhe devolver tais importâncias, mas Jörn se mostrou indiferente em receber o que naquele momento poderia ser parte da solução do meu problema.

Peguei o email de Jörn e tenham certeza, que quando ele menos esperar, pedirei para algum amigo meu que more na Alemanha que lhe devolva estes valores. Mas a sua gentileza, é impagável!

Enfim, hoje já no Brasil e em casa, e Marcelo Resende também em território brasileiro, ainda em algum lugar da estrada, talvez em Mato Grosso do Sul, onde iria se encontrar com o amigo motociclista, Marcio Roberto, posso agradecer a Deus por estar aqui compartilhando esta vivência com vocês.


clique na foto para ampliá-la


Uma lição de vida.

Enquanto escrevia este relato, revivia a lembrança de cada passo. Sei que todos os bens, documentos, cartões de crédito, etc, posso providenciar o quanto antes. Mas a revolta dos tapas que tomei no rosto com os meus 50 anos, é muito difícil engolir! Em poucos segundos, ao escrever sobre a atitude deste senhor alemão, o Jörn, me faz acreditar cada vez mais, que apesar de um pequeno percentual da humanidade estar podre, existem pessoas como Jörn, que nos trazem esperança por cada quilometro rodado.

Obrigado Deus, por estar aqui escrevendo esta mensagem, com toda a minha integridade física, próximo da minha família e amigos.

Fonte: http://www.rotaway.com.br/content.asp?cc=7&id=844
Por Eduardo Wermelinger

Caro Eduardo, desejamos que você se recupere em breve do susto!
Agradecemos seu relato e estamos compartilhando para que chegue a um número maior de viajantes motociclistas!

Confraria Dos Lobos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário