sexta-feira, 25 de abril de 2014

#Viagem: Serra do Rio do Rastro, SC - Brasil.

                                                                                                            Texto escrito para a Revista MotoMercado (Coluna Viagem) - Abril 2014.



   Duzentas e cinquenta curvas em oito quilômetros de estrada concretada, que te levam do nível do mar até 1.420 metros de altitude, com uma variação da temperatura ambiente que pode chegar a 50%, ou seja, sair do nível do mar com 30 graus de temperatura e dez quilômetros depois estar a 15 graus, definitivamente, não é para iniciantes.
   Estes fatores fazem com que a Serra seja um trajeto cauteloso e técnico. E, em alguns trechos, a pilotagem difícil provocará receio no piloto em virtude do trajeto sinuoso.
   A estrada que cruza esta serra catarinense é bem sinalizada, bem pavimentada, protegida com muretas e bem monitorada pelas autoridades. Então as dificuldades da pilotagem, neste caso, não são por conta das condições da estrada, mas sobre o próprio piloto. Desta forma, testando suas condições físicas, técnicas e psicológicas, sobremaneira os ´apressadinhos´, ´indecisos´, ´impacientes´ e ´inábeis´ tendem a beijar o chão desta Serra.
   Assim sendo a sensação de ter sido iniciado no motociclismo é o sentimento que temos ao completar este trecho de floresta de Araucárias intactas, fauna e flora exuberantes formando paisagens espetaculares, tendo como moldura a Serra Geral e nela a estrada escavada em rocha natural que serpenteia um verdadeiro precipício e contorna um profundo cânion .




   A Serra do Rio do Rastro é um dos cartões postais de Santa Catarina. A rodovia liga a Serra catarinense ao litoral do estado unindo o planalto serrano (com temperaturas negativas no inverno, campos cobertos por gelo e neve) à planície litorânea colonizada por italianos e alemães de clima ameno. 
   Por tudo isso é considerada uma das estradas mais bonitas e desafiadoras do Brasil. Não obstante o fato de ter sido eleita a ESTRADA MAIS ESPETACULAR (assombrosa, em espanhol) DO MUNDO. O resultado da enquete (realizada por um site da internet) do jornal espanhol 20 Minutos é incontestável: A Serra do Rio do Rastro aparece em primeiro lugar, seguida pela ponte de Storseisundet, na Noruega e pelo túnel de Guoliang na China. 



Vamos a lista completa e respectiva  pontuação:
1. Carretera Sierra Río de Rastro, Sta. Catarina (Brasil) -  53.256 pontos
2. Puente de Storseisundet, Carretera del Atlántico (Noruega) – 12.403 pontos
3. Túnel de la Carretera de Guoliang (China)  - 11.536 pontos
4. Trollstigen (La escalera del troll) – Noruega – 8.011 pontos
5. Los caracoles del paso de Libertadores – Los Andes – 7.968 pontos
6. Camino de la Muerte (Bolivia) – 7.925 pontos
7. Viaducto de Millau, Carretera de París a Barcelona – 7.620 pontos
8. Autopista Elevada (Florida Keys) – 6.938 pontos
9. Corredor de nieve hacia el Monte Tateyama (Japón) – 6.906 pontos
10. Autopista 17, Carolina del Sur (Estados Unidos)  - 6.803 pontos
11. Paso Stelvio – Italia – 5.570 pontos
12. Autopista de James Dalton (Alaska)  - 5.101 pontos
13. Transfăgărăşan o DN7C – 4.888 pontos
14. Camino a Fairy Meadows (Pakistán) -  4.883 pontos

   A Serra do Rio do Rastro é um trecho da rodovia SC-438, que, partindo da cidade de Tubarão, região do litoral de Santa Catarina, passa por Orleans, Lauro Müller, Bom Jardim da Serra, São Joaquim e chega até Lages no planalto serrano catarinense.
   Por volta de 1730, famílias vindas do Rio Grande do Sul iniciaram o povoamento desta região. A dificuldade em adquirir gêneros de primeira necessidade levou os moradores a abrirem uma trilha na Serra Geral, ligando a região com o litoral, mais precisamente com a cidade de Laguna. À época, a trilha ficou conhecida como Serra do Doze (pesquisamos, mas não descobrimos o porquê do ´Doze´).
  Por essa trilha passavam pedestres e cavaleiros com suas tropas de mulas, ou seja, um caminho para tropeiros, que transportavam mercadorias (charque, couro, queijo e pinhão) das cidades localizadas sobre o planalto serrano, como São Joaquim e Lages, e, retornando com sal, açúcar, farinha e tecidos produzidos no litoral. Conta a história, que a trilha era de muito difícil passagem, sendo comum a perda de mulas que caiam nos precipícios da encosta.

Foto exposta na Churrascaria Casa Branca no centro de Bom Jardim da Serra

Em 1903, o então Governador Vidal Ramos inaugura uma estrada que partindo da atual localidade de Lauro Müller, permite o acesso até São Joaquim e Lages denominada então  "Estrada Nova".
   Em 1905, foi fundado o povoado e, com ele, construídas uma capela, em homenagem a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e uma escola. Em 1921, foi elevado à categoria de Vila, chamando-se Cambajuva. Em 29 de janeiro de 1967 foi criado o Município, sua instalação oficial aconteceu em 5 de março do mesmo ano. 
   No início dos anos 80, a rodovia SC438, que percorre a Serra, foi pavimentada. Nesta Região, a cidade de Bom Jardim da Serra - um dos municípios mais frios do país - possui uma das mais belas topografias do estado. É também chamada de “Capital das Águas” pelo grande número de rios que nascem na região.
   A natureza toma força e vigor com suas cascatas e montanhas cobertas por uma vegetação intocada. A Serra fica a 11 km do centro da cidade. São 12 km de estrada concretada para permitir o tráfego, especialmente em dias de neve e geada. A iluminação instalada a partir do ano de 2002, fez com que recebesse mais um atrativo, sua subida no período noturno é como se estivéssemos em um Grandioso Palco, onde nós figurantes, contracenamos com a Grandiosa Atriz Romântica - Serra do “Caminho da Luz” (outro nome dado a Serra do Rio do Rastro).
  Em outras ocasiões eu havia subido a Serra fazendo o trajeto: Florianópolis/Tubarão (BR101), Tubarão/Lages (SC438), daí pela BR282 até a Grande Florianópolis.
  Desta vez, resolvi descer. Então, defini ir de Florianópolis a Urubici (BR282), de lá até São Joaquim pela SC430. Vir pela SC438 até Tubarão e de lá, pela BR101, voltar a Florianópolis.
  Então, escolhido o destino e traçado o trajeto. Roupa na mochila. Mochila no bauleto. Bauleto na moto. E, moto na estrada.
  Preventivamente, resolvemos usar as parcas modelo ÍNDIGO da LookWell. A temperatura em Florianópolis era em torno de 26 graus, mas é sabido que aquela região prepara surpresas geladas. Neste caso, retiramos os forros aquecedores e levamos no baú. Chove pouco esta época do ano, pesquisamos a previsão climática (Epagri) e confiamos na impermeabilidade de nosso equipamento. Acertamos, não choveu. 
  Testamos um equipamento novo, que nos foi enviado pela HSS Racing. Usamos – por baixo da parca e calça – um modelo de roupa segunda-pele que compreende uma blusa de mangas compridas e uma calça comprida. 
   Feitos com uma composição de poliéster e elastano o conjunto WARM permite o aproveitamento do calor do próprio corpo. Na verdade, a roupa não aquece. Ela não permite a perca de calor para o ambiente. Isso vai manter seu corpo a, uns médios, vinte e seis graus. O quê para os ´encalourados´ é confortável. Além disso, o tecido é semi-elástico moldando-se ao corpo dando conforto e, principalmente, mobilidade. Não tem nada pior que vestir uma roupa para frio que deixe a impressão de estar travando seus movimentos. 
   Desenvolvida originalmente para esportes radicais, e adaptada para o motociclismo, chamou-nos a atenção detalhes como gola-padre alta (para proteger a garganta do frio), com zíper protegido por um tecido macio (para não arranhar o pescoço) atendendo perfeitamente à prática do motociclismo.




  Conhecido como ´Vale Europeu´, a BR282 corta as cidades de Santo Amaro da Imperatriz, Rancho Queimado e Alfredo Wagner na Serra Geral rumo ao Planalto Catarinense duplicada em poucos pontos da rodovia.
  O trecho é sinuoso, mas permite um visual onde a natureza exibe suas montanhas e cascatas dando um espetáculo aos viajantes.



   Logo após a cidade de Bom Retiro, há um trevo que liga a SC430, rodovia que nos levará a Urubici. Este trecho exigirá habilidade e calma do piloto. Pessoalmente, considero um dos mais perigosos de SC. No sentido BR282 a Urubici há um declive muito acentuado com curvas muito fechadas e com pouca tangência. Além disso, a umidade faz com que o pavimento fique escorregadio em alguns pontos. Cabe muita cautela.
   Em Urubici há boas pousadas e hotel para aqueles que resolverem fazer passeios como o da Serra do Corvo Branco (Urubici a Grão Pará), Morro da Pedra Furada e algumas cascatas. Vale aqui a indicação gastronômica para as trutas da região. São ótimas.
   Continuamos rumo a São Joaquim, ao fim da tarde a temperatura nos avisou que havíamos chegado.


  Três graus em abril. Mas, até que estava agradável.  ...Na frente da lareira é claro!



   Nossos amigos, parceiros de viagens (Ayrton e Vilma), nos aguardavam no Centro de Treinamento da Epagri. Noite de churrasco, queijos, vinhos e muito ´bate-papo´.
   Amanhece o dia, geada até ás oito horas. Lá pelas dez horas o sol eleva a temperatura até uns quatorze graus e deixa o ambiente ideal para prosseguirmos o passeio.



   Saímos de São Joaquim em direção a Bom Jardim da Serra pela SC438, cortando o Planalto Catarinense sobre a Serra Geral tendo as Araucárias, em sua forma nativa, como adereços da ´nossa´  estrada.



   Uma parada no Snow Valley para um chocolate quente acompanhado de torta de maçã, morango, limão, nozes ou ...  na dúvida, experimente todas. Aliás, a gastronomia desta região é maravilhosa. Iguarias como charque, queijos, embutidos, o tal de ´feijão tropeiro´, e, o famoso PINHÃO. 
Sabe o que é?
Como assim, não sabe?     Tá! eu explico ... 
   É a semente da árvore Araucária, por ser um Gimnosperma ela não tem frutos. A semente não tem  ´envólucro´, que seria o fruto, apenas uma casca. 
Dica da nossa bióloga de plantão Márcia Patrícia.

   Importa é que com ele bem cozido faz-se FAROFA COM PINHÃO, PÃO COM PINHÃO, CHURRASCO COM PINHÃO, PUDIM DE PINHÃO e ENTREVERO COM PINHÃO...   Entrevero é um prato típico da culinária serrana catarinense, feito com vários tipos de carnes cortadas em pequenos quadrados, tomate, pimentão, tempero e, e, e ...      PINHÃO.   Servido bem quente, suculento, acompanhado de pão ´crocante´ é tudo o que se deseja diante do frio da Serra.

   Então, voltemos a estrada. Já no Município de Bom Jardim da Serra nos deparamos com um incêndio na vegetação. Prática local para  ´limpar o pasto´.

   Infeliz prática. Só provoca danos ao meio ambiente, prejudica a segurança (visibilidade) do trânsito no local, e, acidifica o solo com as cinzas quentes, queimando também seus nutrientes. 

   Triste e revoltante visão.




  Chegamos ao mirante da Serra do Rio do Rastro, paramos para nos preparar para a descida.



   Céu FECHADO. A neblina era forte e muito densa. Não se enxerga nada. Estes fenômenos climáticos são rotineiros nesta região. 

   Note, aqui começa a iniciação do piloto.

_ Primeiro teste. PACIÊNCIA.
   Não cabe arriscar a segurança nestas circunstâncias, então, aproveite para fotos, conversar com as pessoas e principalmente, buscar informações sobre o trecho adiante.

_Segundo teste.  TOLERÂNCIA.
   Não perca o bom-humor, ninguém tem culpa da situação. Seja tolerante com o momento e procure tirar proveito da espera.

   Aguardamos quase uma hora, quando a neblina começou a dissipar e um motorista, que acabara de subir, nos disse que abaixo do mirante (uns 2 Km) já havia boa visibilidade.
   
   Então, começamos a descida. Faróis BAIXOS e auxiliares ligados. Toda a atenção aos outros veículos – que invadem a pista contrária nas curvas -  e ao pavimento, procurando posicionar as rodas da moto nos ´trilhos´ mais secos, ou seja, nos pontos mais claros da pista.

Ayrton e Vilma.

Logo em seguida a neblina subiu, continuamos nossa descida com esta preocupação a menos. 

_Terceiro teste. CONCENTRAÇÃO.
   O trecho inicial (mais alto) é o mais sinuoso. Exigiu maior concentração para a pista e para o equipamento. Freios, embreagem e suspensão devem ser analisados o tempo todo pelo piloto. Sua concentração não pode falhar. Esteja atento para qualquer alteração da normalidade. Qualquer diferença que seja notada você deverá buscar um refúgio e parar imediatamente.  Não arrisque.

_Quarto teste: HABILIDADE.
   Aqui você conhecerá sua moto intimamente. Notará, na prática, aqueles efeitos que os artigos sobre pilotagem descrevem.

    Notará que sua custom tem ´vontade própria´, nas curvas – algumas vezes – ela sai do seu traçado procurando a tangência por si só. Como se ela definisse a trajetória sem dar a mínima para quem está atrás do guidão.

   Notará que sua esportiva não está tão colada no chão como você imaginou. A roda traseira parece que está querendo ultrapassar a dianteira. Aja braço pra segurar a briga das duas.

   Notará que sua big trail é pesada. E que, ou você usa este peso a seu favor, ou terá a impressão que o guidão afrouxou.

¬_Quinto teste: LIMITES.
   Conheça e respeite, seus próprios limites. 
   A Serra é um grande passeio do qual você nunca mais se esquecerá. Desejamos que esta lembrança seja apenas de momentos bons. Seguramente, é bom ter domínio da moto antes de fazê-lo.

   No trajeto, você notará vários locais que permitem paradas seguras, monumentos e venda de souvenirs. Então, curta a paisagem, fotografe muito, respire aquele oxigênio puro e agradeça aos céus por estar ali.

   Na segunda metade do trajeto as curvas são bem mais amenas, isto permite uma pilotagem menos tensa, mais prazerosa. Sugiro que pare e veja o que acabou de fazer. Aos pés da Serra você olhará para cima, verá a estrada e se orgulhará de ser motociclista.

   Em dias de céu limpo, pode-se avistar o mar na região de Laguna, realmente um cartão-postal.



   Chegando ao pé da Serra do Rio do Rastro você encontrará um trevo rodoviário que o levará a cidade de Orleans, Tubarão, Urussanga ou Treviso. Seguimos na direção de Tubarão para alcançarmos a BR101 e daí para Florianópolis pelo litoral catarinense. 




Se você gosta de viajar, fique a vontade, sinta-se na estrada...
    Lobo/Edna



Pesquisamos em: 
www.cprm.gov.br/coluna/serra_rio_rasto.html‎ 
www.lauromuller.sc.gov.br/turismo/item/detalhe/9961
www.serracatarinense.com.br/bomjardim.htm
www.serradoriodorastro.net/‎ 
www.gazetadopovo.com.br/.../rio-do-rastro-corvo-branco-e-urubici-uma...
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2 comentários:

  1. Álvaro José Medeiros Júnior4 de junho de 2014 às 17:18

    Boa Tarde!
    Parabéns pela bela dica de um roteiro de uma viagem muito mais que linda. Sugiro, quando chegar em Orleans, siga para São Ludgero, Braço do Norte, Gravatal e Tubarão (BR 101). Em Gravatal entre para conhecer. É uma linda cidade, com as melhores águas termais do mundo. Vale a pena conhecer, tem ótimos hotéis, comércio muito barato, etc. Também sou motociclista e apaixonado por viajar de moto. Eu a Esposa Eliani (que adora viajar de moto) mais um casal amigo (Sidney e Patrícia) aqui de Gravatal, fizemos várias viagens de moto juntos. Duas para o Chile.
    Um Grande Abraço.

    Álvaro José Medeiros Júnior
    Gravatal - SC

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  2. Sugiro www.rotasantaebelacatarina.com.br
    Um belo passeio, conhecendo Ilha, Lagoas, Dunas, Litoral, Serra e Planalto Catarinense em apenas uma ROTA, comprove pelo Site e ganhe um KIT e conste no Site Oficial da Rota Santa & Bela Catarina
    Wagner

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