segunda-feira, 2 de junho de 2014

#Dicas: Buzinar pode dar multa e não faz o carro à sua frente 'derreter'.

Se carro muda de faixa na sua frente, não há freio nem barulho que salve.
Motociclista deve se equipar e reduzir velocidade no congestionamento,
Roberto Agresti
Especial para o G1


A cena é comum nas grandes cidades brasileiras: a moto avança, rápida, no corredor formado pelos carros quase parados. Com ela, vem o irritante ruído da buzina, acionada pelo condutor da motocicleta como se fosse uma sirene de ambulância, brutalizando os ouvidos e a paciência de quem já tem bem pouca.
Quem usa esse ruidoso método costuma justificá-lo pela necessidade de ser percebido e para evitar as clássicas “fechadas” de consequências imprevisíveis, quase sempre graves. Mas quem adota essa medida de segurança certamente desconsidera que, agindo assim, comete uma infração passível de multa (R$ 53,20, três pontos na carteira) prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Em seu artigo 41, ele define que o condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, "desde que em toque breve", nas seguintes situações:
I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar acidentes;
II - fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.

Já o artigo 227 relata as as circunstâncias passíveis de multa:
I - em situação que não a de simples toque breve como advertência ao pedestre ou a condutores de outros veículos;
II - prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto;
III - entre as 22h e as 6h;
IV - em locais e horários proibidos pela sinalização;
V - em desacordo com os padrões e frequências estabelecidas pelo Contran.
Ainda não inventaram buzinas com o dom de desmaterializar obstáculos à frente
A habilidade vinda de décadas ao guidão até que me permitiria rasgar o fiorde de veículos bem maiores do que o meu em velocidade, porém, minha central de controle – o cérebro – me impede. Não é uma questão de simples medo, mas sim de conhecimento, raciocínio e lógica.
Sei bem que bastaria apenas um carro ameaçar mudar de faixa à minha frente para que o desastre potencial se realizasse. Não haveria habilidade ou freio capaz de me salvar, e tampouco inventaram buzinas com o dom de desmaterializar obstáculos à frente.
Na melhor das hipóteses uma motocicleta nova exige de 15 a 20 metros para parar quando freada a 60 km/h em piso seco e perfeito. Um tombo decorrente de uma eventual perda de controle nesta delicada fase da descaleração de emergência, a frenagem “estilo pânico”, seria o menor dos problemas. Sem obstáculo à volta e com o motociclista devidamente trajado – bota, luvas, calça e jaqueta com proteções e o capacete – a chance dos ferimentos serem mínimos é grande.
O problema mais grave é outro: bater com força no que for. E, concordem, rodar a 60 km/h no meio de um mar de veículos conduzidos por gente estressada é dar muita chance para o azar, elevando a níveis intoleráveis a probabilidade de um choque.
Buzinar incessantemente virou, assim, uma fórmula adotada por alguns que, me desculpem, carecem de total lógica como exposto acima. O que resolveria é, segundo outros, radicalizar, simplesmente proibir a circulação de motos no chamado corredor como já ocorre em alguns países.
De minha parte considero que tal medida seria inadequada e excessiva, resultando em problemas de ordens diversas, entre os mais significativos a dificuldade de fiscalização associdada à natural resistência de quem usa a moto, que resultaria em mais uma situação de desobediência civil. Mais uma “lei que não pega”.
Tirar da moto, por decreto, sua melhor qualidade, a agilidade, é simplificar demais o problema
Tirar da moto, por decreto, sua melhor qualidade, a agilidade, é simplificar demais. Equivale a proibir a fabricação de armas para evitar assassinatos ou a bebida alcoólica para evitar os porres e suas más consequências.
A primeira e mais óbvia solução seria promover uma forte campanha de concientização envolvendo todas as mídias, destacando que a velocidade das motos nos corredores não pode superar um máximo de 20 ou 30 km/h quando há congestionamento.
E, para os motoristas, haveria a efetiva contrapartida, com outra campanha, estimulando a atenção na mudança de faixa, sempre precedida pela devida sinalização, de braço ou de pisca-pisca, como manda a regra. Nada de muito estranho, não? Seria simplesmente seguir leis já existentes e estabelecer um pacto de não beligerância: motos mais devagar, motoristas mais atentos.
Gentileza
A agressividade presente na condução de qualquer meio de locomoção, seja de duas, quatro ou mais rodas é um destacado traço negativo da sociedade brasileira, e que contrasta com a propalada cordialidade de nosso povo. Atrás de um guidão ou volante, o carro a nossa frente é o "rival" a ser derrotado (ultrapassado) e a moto ao nosso lado é a ameaça que devemos eliminar. Maluco, não?
Dirigir qualquer tipo de veículo por ruas e estradas da Europa, América do Norte e de alguns países da Ásia como Japão é Coréia do Sul é uma experiência e tanto para nós brasileiros. Invariavelmente ficamos maravilhados pela diferença brutal com a nossa realidade. Lá, mesmo quando o trânsito é intenso, há uma cadência suave, um ritmo calmo, e respeito tanto às leis quanto aos outros condutores de qualquer tipo de veículo.
Motocicletas permitem mais mobilidade que automóveis, mas cobram o preço em forma de risco. O guidão nem sempre é acessível a todos por conta da habilidade e despreendimento que demanda. Mas seja quem anda de moto ou quem prefere o carro para se locomover deveria sempre lembrar do mote tornado famoso pelo “Profeta Gentileza” , espécie de maluco beleza que habitou as ruas do Rio de Janeiro entre os anos de 1970 e 1990: “gentileza gera gentileza” era sua frase principal, escrita em muros, pilares, onde quer que fosse. Ela sintetiza a mais óbvia das soluções para diminuir o clima de guerra temperado por fechadas, freadas e buzinas.




Boas estradas!

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